Os cultos de oração nas igrejas estão esvaziados, e em algumas delas, até extintos. Penso que essa má atitude da igreja teve seu início numa onda de inovações eclesiásticas, dentre essas inovações, grupos ou reuniões sociais, com uma roupagem espiritualizada de “reunião de oração”, com bebidinhas, comidinhas e muito bate papo legal, mas com pouco conteúdo de oração fervorosa e interseção genuína pelas pessoas. As igrejas são boas em criar ambientes agradáveis que incentivam o vínculo social sem vínculo espiritual. Vínculos de comunhão na igreja são fortalecidos pela oração coletiva e não pela atividade social. Essa prática, incentivada pela própria igreja, tem banalizado a oração coletiva, e afetado a oração individual dos crentes. A igreja não tem incentivado a disciplina espiritual da oração na vida de seus membros, desestimulado a oração pública e coletiva.
Me chama atenção também, a adesão da igreja, de modo geral, para o que eu chamo de “eventos de oração”. A igreja troca o cotidiano de oração por vigílias, campanhas e correntes de oração, que parecem ser mais significativas, poderosas, místicas e atrativas que uma boa e velha rotina de oração congregacional e semanal. A Rotina de oração semanal (culto de oração), é considerada enfadonha, cansativa e ultrapassada para muitos. Uma atividade que conflita com o horário nobre do jornal e da novela, rouba o tempo de descanso, da academia e do lazer. Membros de igreja até espiritualizam suas agendas com ensaios e reuniões da igreja, visitas que conflitam com reuniões de oração coletiva. Crentes maduros, que junto de sua igreja, deveriam interceder e clamar pelos discípulos a serem alcançados, estão ausentes das orações na igreja. Crentes que deveriam ensinar os mais novos a orarem.
Outro motivo de esvaziamento nos cultos de oração, tem sua origem no egoísmo e excessivo zelo pela privacidade. Muitos não suportam ouvir o compartilhar dos lamentos, dor e problemas de seus irmãos num culto de oração, nem querem compartilhar seus próprios problemas com a igreja do Senhor, afim de preservar e zelar por sua privacidade. Outros até dizem preferir orar em casa e no quarto, citando Mateus 6.6 como base bíblica. Não duvido da disciplina de alguns destes, mas a grande maioria, que usa desse argumento, sequer tem um tempo de oração diário e usa deste artifício como desculpa e uma forma de amenizar sua negligência.
O fato de se ter grande conhecimento bíblico e ser estudioso das Escrituras, também não é desculpa para não orar com seus irmãos. Como diz Martyn Lloyd-Jones: “Nossa condição definitiva como cristãos é testada pelo caráter da nossa vida de oração. Isso é mais importante que o conhecimento e o entendimento. Não pensem que eu estou diminuindo a importância do conhecimento. Tenho passado a maior parte da minha vida tentando mostrar a importância de se ter um bom conhecimento e entendimento da verdade. Isso é de importância vital. Só há uma coisa que é mais importante: a oração. O teste definitivo da minha compreensão do ensino bíblico é a quantidade de tempo que eu gasto em oração... Se todo o meu conhecimento não me conduz à oração, certamente há algo de errado em algum lugar.”
Uma das primeiras coisas que se manifestam na conversão é que ela leva os homens a orar individualmente, publicamente e uns pelos outros. “Somos convidados, até ordenados, a orar. A oração é tanto um privilégio como um dever. E qualquer dever pode se tornar laborioso. A oração, como todos os meios de crescimento para o cristão, exige trabalho. Em um sentido, a oração não é natural para nós. Embora tenhamos sido criados para a comunhão e interação com Deus, os efeitos da Queda têm-nos deixado preguiçosos e indiferentes para com algo tão importante como a oração. O novo nascimento desperta um novo desejo de comunhão com Deus, mas o pecado resiste ao Espírito”. Sproul, R. C.
Deveríamos seguir ardentemente as orientações de Tiago: “Portanto, confessem seus pecados uns aos outros e orem uns pelos outros para serem curados. A oração de um justo tem grande poder e produz grandes resultados.” Tiago 5:16. Deveríamos restaurar a prática de oração da igreja primitiva citada em Atos: “Ao ouvir o relato, todos os presentes levantaram juntos a voz e oraram a Deus: “Ó Soberano Senhor, Criador dos céus e da terra, do mar e de tudo que neles há,” Atos 4:24; “Enquanto Pedro estava no cárcere, a igreja orava fervorosamente a Deus por ele.” Atos 12:5.
O grande valor das reuniões de oração é que crentes encorajam uns aos outros a suportar as dores e as dificuldades e se alegram mutuamente. Todos nós enfrentamos obstáculos, mas quando compartilhamos nossas dificuldades e oramos juntos como cristãos, muitas vezes ajudamos os outros a evitar o desânimo em suas vidas espirituais. O valor da oração corporativa reside no seu poder de unificar os corações. Orar diante de Deus em favor de nossos irmãos e irmãs tem o efeito de nos unir espiritualmente. Quando carregamos "as cargas uns dos outros", nós de fato cumprimos “a lei de Cristo” (Gálatas 6:2).
Uma reunião de oração é um tempo de verdadeiro valor quando os crentes buscam uma profunda intimidade e uma comunhão silenciosa com Deus no Seu trono. É um tempo de unidade com os companheiros crentes na presença do Senhor. É um tempo para cuidar daqueles que nos rodeiam enquanto compartilhamos seus fardos. É um momento em que Deus manifesta Seu amor eterno e deseja Se comunicar com aqueles que o amam.
Não esvazie seu culto de oração, reserve uma hora e meia de suas noites de quarta-feira para batalhar em oração junto de seus irmãos.
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